Poesia
Cresci entre escritores e poetas
Escrever é o florir da vocação
Salteio e escrevo com todas as letras,
Prezo o meu lado florido, a sensação.
Atado aos imensos e travados cabos,
Do lado mais profano do coração.
Escrevo os teus olhos, beleza e lábios,
Calvário da natureza, a paixão.
Sobre a noite, sobre todos estes rios,
Tal ossário é fundo do mar alto,
Sobre um Inverno e os seus frios,
Algo dos ventos no monte calmo,
Momento é tudo, é o meu acto,
Sobre a vida algo profundo,
Porém sou destrutivo e te assalto,
Ando perdido bem lá no fundo,
Tal bandida que fura as entranhas
Fura as entranhas deste mundo,
Do mundo e das gentes estranhas,
Sinto os poemas porque me afundo,
Poetizo a verdade sem artimanhas,
Tu és artimanha, és poema, és assalto,
Cada palavra uma inquisição,
Cada poema um propenso acto,
Estrangulados versos numa mão.
Cada poema transmite um lado
O lado da dura ilusão.
Escrevo esta poesia tão torta
Talvez mais intensa e morta,
Como uma planta desta Horta
Que à qual sem fruto se corta...
Poema que pode ser de ofensa,
Com tal verdade imensa.
Cresci entre salteadores e poetas,
Salteadores de poesia densa,
Nesta luta cruel e intensa.
O poeta pode ser um profeta,
Da verdade tão propensa,
Esta poesia nada tem de discreta.
Digo isto apenas...
O poeta...
...sofre a maldição,
...passa todas as penas,
Por um punhado de poemas na mão.
Assin: Artur Rebelo
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