Instantes Perdidos

Instantes que se perdem na vida rodopiante e alucinada... Instantes escritos em poesia na busca da perfeição.

segunda-feira, junho 27, 2005

Tenho medo de ti...

Tenho medo de ti,
Porque a lágrima que mesmo fraca
Uma distância percorre,
E a alma dos olhos
Brotando na face onde morre
Deixa a sua húmida marca...

Tenho medo de ti,
Ao desenhar os problemas
Que na verdade da vontade
Eles me matam resgatando
A prisão sem algemas
Que se chama felicidade...

Tenho medo de ti,
Porque talvez a ti amo
Que mesmo sem palavras rimando
Chamo eu de verso,
Que é o que chamo
Ao teu corpo a descoberto...

Tenho medo de ti,
Porque és demasiado bela
Para o que amanhã me espera,
Tal fracção que se imobiliza
No teu ser que de medo me gela
Mesmo sem a mais fria brisa...

No teu corpo que se adorna
Colado ao meu peito aqui,
Do sentimento que não
Sairá daqui tão cedo...
Porque de ti,
Eu continuarei a ter medo...

Assino: Artur Rebelo

quinta-feira, junho 23, 2005

Vendida a memória dos olhos


Escuto as ondas do mar caiadas a frio,
Dormências desalinhadas no afecto
Como se fosse o olhar sombrio
Da recusa que o amor sente
A um não, como resposta do acto secreto...
Criei a nostalgia de antigos delírios,
Cavalguei por caminhos sem gente,
Eram caminhos na dor e mau aspecto
Onde o néctar dos meus olhos frios
Escorria e vagueava no rosto inquieto...
Despida a alma da luz sem piedade
Que matou este sonho meu,
Agora expresso no olhar
Mostra que esta vaidade
Que era te amar na memória...
...Ela se colou,
E nesta dor junto os meus olhos
Que os tomo já velhos na idade
A memória deles já eu vendi
E tudo o mais que restou.

Assino: Artur Rebelo (Incluído na Antologia “Dores”)

quarta-feira, junho 22, 2005

Essência do corpo...

Senti-me dentro do teu corpo
Cavalgando nele a vergonha
Senti-te nas curvas do medo
E delas destilei o fogo aroma
Nesse corpo que solta veneno...
Misturando o teu corpo
Ao meu na soma,
Que os transforma cedo
Num bruxedo que chamo tesão...
Muitos à paixão chamam bastarda,
Mas o meu corpo no teu aguarda
A essência profunda,
Já saída de ti para mim, ela é afrontada
No intimo do meu mundo
Das pernas entrelaçadas na ferida
Que é sentir-te cá no fundo...

Assino: Artur Rebelo
(Incluído na colectânea “Calores”)

terça-feira, junho 21, 2005

Queria sentir...



Queria sentir o teu corpo,
Tocá-lo, amá-lo
Ou apenas lê-lo como já o li,
Essa certeza de encontrar amarras
Com que o sinto em mim...

Queria sentir o meu corpo,
Como se eu fosse indolente
Nos lençóis cor de carmim
Onde o leio devorado no tempo,
Do liquido que se esvairá negligente
Que abrupta violento
E sem fim...

Queria sentir o teu corpo
No amor doce e incolor,
Mesmo na mais forte dor
Até o sentir como meu
Como sinto o vento...
Na penumbra do asfalto
Do verdadeiro sobressalto,
Que é sentir este sentimento...

Queria sentir o meu corpo
No teu corpo...
Até que o meu sangue parasse
E eu caísse morto...

Assino: Artur Rebelo

segunda-feira, junho 20, 2005

Câncer...



Afogo os lábios sangrando a quente
Docemente na dádiva da fraqueza
Pelo estranho encantamento que amua
Afogando o sabor demente
Criado no corpo da natureza
Que se encerra entre o ser que recua
Nas lágrimas frias que a boca sente
Rendidos no sabor da identidade
Do sonho salgado da saudade...
Essa cor na minha boca somente
Faz acordar a recordação que dá medo
Aqui dentro colou
Até minha boca ficar seca
Dos sentidos que morrem cedo
Afogo os lábios na morte fria
Corpo de calor agora um rochedo
A solidão corre no sangue sem quantia
As carícias que se perdem no tempo
Há-de o chegar o dia
Espero esse dia em que termina
O sofrimento...

...que o corpo mina.


Assino: Artur Rebelo

(Dedicado à Carla que não resistiu mais e faleceu no Sábado 2005-06-18, com apenas 22 anos.)
Carla não me esqueço da tristeza do teu olhar quando na última vez que te vi faz agora uns 2 meses e entraste no café, entraste com o teu lenço na cabeça despida de qualquer alegria, alegrias que desapareceram mas que já as tiveste. E beleza que tinhas, continuará por entre todos os que te conheciam.

Descansa em paz...

sábado, junho 11, 2005

Dia de Portugal (10 de Junho)

Pelo meu país

Aqui neste canto existe a guerra,
Erguendo momentos de angústia
E o sangue negro rega a terra,
Rega, sem cantar a vitória
E é nas lágrimas da espera
Que a bandeira grita na glória
Para conquistar o mundo que venera.
Levanto os olhos ao sol aqui mesmo,
E grito a todos exaltando a memória
Dos que regaram a terra inteira
Com as lágrimas da história
E criaram esta fronteira...
Da madrugada que desperta
Porque vem um dia a Nascer,
Agora que a guerra é outra
Prefiro nada mais dizer...
Porque agora não há guerras,
Porque agora não há vitórias,
Porque agora não há honra,
Ficaram memórias garantidas,
Mas o medo, as lágrimas
E o sangue vertem...
...Mas a guerra de hoje
Não mata, mas deixa feridas.

Assino: Artur Rebelo (10 de Junho)

terça-feira, junho 07, 2005

Corpos tocando-se na noite,

Acuso o teu gosto tenso,
Porque gosto dos teus olhos
Que avivam o corpo imenso
Como encantos na alma tua,
Preciosa jóia aqui se arruma
Na dilacerada mente nua
No suor que me embrulha
Com o seu cheiro denso,
Nascido no corpo que me sustém...
Propalas teu ânimo intenso,
Aqui como além
Que sinto numa rua
Uma rua sem ninguém...
Diz-me tu se te amo?
Eu digo-te apenas... A ti chamo...
Com o meu corpo nu
Que toca teu sal
Que é meu sabor amado
Com que sinto o corpo cru
Amo-te e ao te amar,
Sinto o gosto do pecado...

Assino: Artur Rebelo

sexta-feira, junho 03, 2005

Abraço,

Fecho os olhos ao reflexo
Réplica do abraço adocicado
Ao sentir o toque, tal afecto
Já muito leve
Que me arrepia
Como o teu tronco abafado

Da espessura do conjunto
Ao busto no meu peito
Acompanham a pressa
Do sem jeito,
Marcam o medo profundo
Nessa timidez que regressa

Sinto os braços na pele macia
Que tingem a pele fronteira,
Que se arrepia outra vez
Sem mentira nem canseira
Mas que aperta e asfixia
Menstruam na minha tez
Toda a tinta em demasia
O pequeno mundo que és tu
Que chamo de lucidez...


Artur Rebelo
(Incluído na colectanea Amores)

quarta-feira, junho 01, 2005

Lua firme...

A lua que brilha doente,
Deambula eterna na superficie
Calma das limpidas águas,
Retrata incessante o que sente
Ao recordar os olhos mágoas
De alguém, talvez ninguém
Ou de toda a gente...
Essa lua a quando astreia,
Peará na terra inteira
A tristeza duma loucura sentida,
Que espreita sorrateira
Para destruir algo que nos premeia,
Roça e faz do brilho a batida
Mas apenas quando está cheia...
Atravessa a alma tranquila,
Que nos faz pensar,
Que somos ordinários no medo,
Perante esta lua, que jaz na rua
E atravessa o ar...
O medo de beber da noite o negro
Que geram cordéis de sentimento
Não sei nada desta lua acesa,
És conhecimento que sustém o teu segredo
Na luz que será sempre a mesma...

Assino: Artur Rebelo