Instantes Perdidos

Instantes que se perdem na vida rodopiante e alucinada... Instantes escritos em poesia na busca da perfeição.

domingo, janeiro 30, 2005



Submerso


Depois da sede de ti
Vem a seca de mim,
Arrelio a encarnada cor,
Fico assim tão rubro
Mas sempre fica o amor.
Com o qual de ti me cubro...



Assin: Artur Rebelo

sábado, janeiro 29, 2005

Crescer...



Até há bem pouco tempo,
Brincava com bonecos,
Era o peito de minha mãe
o verdadeiro alimento...
E dela recebia afectos...

Até há bem pouco tempo
Resolvi fazer uso da caneta
Não pensava na morte,
Nem da alma que se arrebenta...
Não era poeta e tinha sorte...

Até há bem pouco tempo,
Era um travesso menino,
Do mundo fazia alarido som,
Corria pela rua sem sentido,
Foi ainda há muito pouco,
Mas agora sou vivido...

Agora persistem
lágrimas nos olhos soltas,
Em gotas poucas que existem...
E dizem ao coração,
Que uma mãe ama sempre,
Ela nunca nos diz não...

Agora no mundo dos outros
tenho um amor carente,
Os peitos são loucos,
Duma mulher alegre contente,
Os sentimentos são tão ocos...
Mas foi agora somente,
...o corpo cresceu, está diferente.

Assin: Artur Rebelo

quinta-feira, janeiro 27, 2005

A dor da poesia...



Meu rosto coberto de lágrimas,
Escreve nos olhos firmes e hirtos
Forma de corte e luta de esgrimas,
A dor contida não suporto mais...
Dá espaço à vida dos infinitos,
É crepúsculo das palavras fatais,
São rimas... São rimas as tais...

Grita a garganta poesia...
Grita a pena na sebenta,
Grita a alma neste dia...

Minha cara tão húmida de dor,
Escreve a plenitude que acalenta
Escreve a dor que me alimenta
O espírito em ardor...
E tudo o que sou é gritos...
E tudo o que faço é escritos...

Gritar era tudo o que queria...
A vida é escrita sem fim...
O silêncio, apodera-se de mim!
Mas continuo a amar-te poesia...

Assin: Artur Rebelo

terça-feira, janeiro 25, 2005

Versejar é muito bom... Sim tenho prazer em versejar. Tenho prazer em escrever e rimar.
Mais prazer me dá, quando leio algo e esse algo fica no meu ouvido e em segundos vem um rompante de inspiração, resultado, saem palavras disparadas.
Aconteceu hoje, apesar de não ser a primeira vez...


...que a partir de hoje este blogue estará linkado no meu humilde blogue. Não deixe de visitar um espaço da fina e esplendorosa poesia.

O poema que escrevi foi:

Lindas palavras...

Hoje és tudo o que quiseres ser...
Hoje és linda, perfeita e tão bela...
Hoje és o momento de agora,
Hoje és para mim estranheza,
Hoje és tudo cá dentro,
E longe de mim estás... Embora,
Hoje de mim tal lamento,
Sentimento terno da beleza,
Nunca mais chega essa hora,
de conhecer o sentimento...
Vem me ver, saber minha grandeza
Dizes..." - Sou aquela que te ama..."
Digo...
Sou aquele que chama...
...que te chama de princesa.

Assin. Artur Rebelo


Nota 1: Para aceder ao site carregue na fotografia.
Nota 2: Imagem é retirada do Blogue Cumplicidades Partilhadas e será retirada se a poetisa e autora do mesmo o pedir.
Nota 3: O poema assinado com o meu nome é adaptado do poema da poetisa Cumplicidades Partilhadas.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Divorciei-me de mim,



Para aliviar e travar as penas,
Envidrei-me dos momentos eternos,
Facturei-me em vómitos de cenas,
Notas de dor e presença de infernos...
Desisti de mim... desisti sim...
Meu corpo mais cadáver que moderno,
Revesti-me no caixão de veneno,
Divorciei-me de mim...
Apesar de homem sou pequeno,
Desisti de mim... Desisti sim...
Morro demasiado cedo, sei porquê...
Casei com o fim... Tenho medo...
Embalo-me na solidão de espuma
Nenhuma mão no horizonte me vê...
Estou no deserto do viver, na duna,
Duna profunda do meu apodrecer,
Casei com o fim... sim, casei com o fim...
Morto estou, moribundo e a morrer,
Divorciei-me de mim...

Assin: Artur Rebelo

domingo, janeiro 23, 2005

Fica...



Maldito o dia que despontou,
O coração escondia os versos,
Maldita a cor que desabrochou
Lamentos de alma submersos,
O meu rosto triste até chorou
Dilaceras-me as entranhas agonizantes
Como te amo minha linda...
Como adoro teus olhos estonteantes...
Fica... Não partas meu amor...
Ela recusou e não ficou...
Só ficaram lamentos cortantes,
Fica... Não partas meu amor...
Perdi toda a sede da sorte...
Apenas ficaram os negros da cor...
Afinal não sou assim tão forte...
Fica, não partas meu amor...



Assin: Artur Rebelo
(Incluído na colectânea “Dores”)

sábado, janeiro 22, 2005

Descolorido navegar




Desenhei uma gaivota no ar,
Que cores de alegria,
Que cores de paixão,
Que cores de fantasia.

Sonhei uma sereia no mar,
Talvez sonho de magia
Talvez sonho de Adão
Talvez sonho de maresia

Sonhos coloridos na embarcação
Mas qual será a resposta?
A dor é a minha resposta.
É a resposta da saudade...

Imagino-as como meu lar,
Imagino-as loucura e felicidade,
Afinal nem gaivota no ar ou Sereia no mar,
Apenas uma descolorida cidade...

Assin: Artur Rebelo

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Cris...



Amo-te ler e nunca amei palavras
Amo-te sorrir, mas já não sei
Escrevias na minha alma, a lavravas,
Teus alentos sentia-os como lei...

Amo as tuas palavras e não sei ler,
Escreves do brilho a sua ironia,
Dentro de mim sentia o teu ser.
És da minha noite a luz dum dia.

Virtualmente te conheci, afinidades,
Agora não te vou perder, descansa,
Fazes do texto o sentir intensidades,
E em nós cresce toda uma esperança.

A saber...
Ainda tenho uma esperança,
De te continuar a sentir...
...e a ler.
Senão ficarás na lembrança.

Assin: Artur Rebelo

O blog que terminou é o blog Palavras de Algodão

http://palavrasdealgodao.blogs.sapo.pt/

Estou Triste...



quarta-feira, janeiro 19, 2005




Pingas-me sangue...

A brisa é fria numa chuva vermelha
Permite um prisma em devassidão,
Eminência da noite que centelha,
Fúteis gritos incolores que me espelha,
Pingo de lágrima vermelha, menstruação.

Meus dedos,
Percorrem o teu corpo
Meus medos,
Percorrem meu corpo...

Morre teu perfume no meu olfacto,
Recusamos o suar e reescrevemos a pele
Interdito o fogo dum escuro acto,
Com esse sabor líquido que me fere...
Pingas lágrimas vermelhas, é um facto...

Meus dedos
Percorrem teu rosto,
Meus medos,
Mostram meu rosto...

Assin: Artur Rebelo

terça-feira, janeiro 18, 2005

Há tempos...



Há tempos,
Flagrantes momentos
Perfis na luz anunciados.

Há tempos...
Cresceram juramentos
Por lábios vermelhos torneados...

Há tempos,
Nasceram rebentos
De amor por lamentos errados...

Há tempos,
Ódios e desacertos
Devido a corpos de paixão...

Há tempos de mudança,
Até quando perdemos a razão...
Tempos, momentos que se vão,
E a vida triste balança...

Há tempos,
Que esmolamos esperança,
Por alguns sentimentos
Onde mora a lembrança...


Assin: Artur Rebelo

segunda-feira, janeiro 17, 2005

A Preto e Branco




Perdi as tintas,
Com que pintava o teu rosto,
Desencontrei-me dos teus lábios,
Fiquem sem o teu gosto.
Ficou o meu sabor de cinza,
Que triste desgosto,
A minha alma grita...

E o meu ser desperta
Como o sol numa janela,
Para a tua alma incerta
Como as cores duma tela.

Perdi as tintas,
Com que pintava o teu ser,
Desencontrei-me do teu corpo,
Fiquei de frio a tremer.
Ficou a minha frustração,
Que triste morrer,
Perdi a razão.

Perdi as tintas do teu gemido,
Para ser honesto e franco
Perdi todo o teu ser colorido,
E agora...
...choro a preto e branco.

Assin: Artur Rebelo.
© Robert Farber/CORBIS

domingo, janeiro 16, 2005



Ilusão...

Passa um turbilhão por mim,
Vai em enorme correria,
passa uma mulher por fim,
Não é para mim,
Mas eu a queria.

O turbilhão já passou,
e a mulher de fantasia,
Parou.
Olhou para mim,
com os olhos me fitou,
Lábios de nostalgia.
Nesse momento sem fim,
Abri os olhos enfim
e o sonho findou.


Assin: Artur Rebelo

Nota: Verdade este poema foi colocado no blogue há algum tempo. Mas decidi relembrá-lo porque este poema vagueia pela minha cabeça.

PENSAMENTO


Fonte: Corbis

Perante um espelho prateado,

Não vemos o verdadeiro espírito,

a beleza está no olhar apaixonado,

olhar de olhos directos ao infinito.


Assin: Artur Rebelo

sexta-feira, janeiro 14, 2005


Foto original de Laurent Askienazy



Sempre,



Eventual momento,
Linda senda
Pérfido sentimento
Pela tua crua fenda.
Meus tons peregrinos
Nos olhos da tua menina
Tocam rudes desatinos
Na tua lenta linha...
Sonhei teu corpo,
Corpo forte, latente,
Que eu sorvo
Cá dentro pra sempre.
Toquei teus lábios
Como toco sempre
Crescem ondas e cios
Por mim avidamente.
Toquei tua vagina,
Húmida e tão quente,
Está na minha sina
Ser por ti carente.

Estás cá dentro, Sempre.
Procuro o teu dentro, fálicamente.
Quero morrer aí dentro...
Pra sempre...


Assin: Artur Rebelo

Nota: Desculpem o poema erótico, mas últimamente ando estranho, será que são os tons da primavera a despontarem?

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Há um menino...




A Foto é retirada da Corbis


Havia um menino perdido,
Agarrado à seiva da vida
Menino tão pequeno e já bandido,
Conhecia o seu manto de ferida,
Pequeno e lindo este menino,
Não esperado pela mãe dele querida,
A mãe chorava fios de sangue fino,
Ele no seu mundo de vermelho imponente,
Amava a sua mãe e mostrava a pontapé.
Permanecia sempre feliz e contente.
Mas sua mãe gelava e perdia a fé,
Incomodava a presença do menino gente,
O menino gente que ainda não o é,
Mas será, mas será.

Deitou-se a mãe um dia,
Junto ao pai amado
Contou-lhe a desalegria.
- Não sei estar a teu lado...
- Quando nasce o menino?
- Não sei, meu amado.
- Vai ser linda a criança.
Respondeu ele em esperança.
Deixaram que a espera
os cobrisse de tão bela.
Aos três.
A ela, ele e a criança viva dentro dela...

Assin: Artur Rebelo

Dedicado ao meu irmão e à minha cunhada
(pelo meu futuro sobrinho...)...




Construção paixão




Sejam amásias paredes mágicas,
Tijolo e mais um tijolo organizado,
Prodígio de construção mas lastimado,
Paredes mais flutuantes e trágicas,
Parecenças em gargalhar do xadrez.
Erguida construção transparente,
Tijolo alaranjado colocado à vez,
Paredes embotadas em toda a gente,
Fincadas no chão, na terra da sensatez.
São danças ritmadas, rede premente
A construção destas finas paredes.
É ilusão... Será mesmo ilusão?
Assim se constroi uma parede diferente,
A que eu sonho de paixão.

Assin: Artur Rebelo
Incluído na colectânea Dores

quarta-feira, janeiro 12, 2005

És poesia.



Descobri uma flor alva sem cor,
Flor é como o raio de sol e eu estremeci,
Não sei bem o que foi, mas deu frutos,
As palavras brotaram de mim para ti
E sentimentos novos cresceram brutos.
À minha volta um cheiro de maresia,
Palavras minhas fazem poemas enxutos,
Mas sei porquê, és pura a crua poesia...
Queria ver meu olhar quando te contemplo,
Deusa do mar mergulhada no meu templo,
És pura poesia da minha vida.
As palavras crescem no meu ser,
Pela tua expressão de forma sentida,
Meus olhos param de brilhar por não te ler.
Meus lábios reflectem a nostalgia...
Mais palavras acabarão para ti nascer,
És a flor do meu dia, és a poesia.

Assin: Artur Rebelo
Fonte: Ted Spiegel/CORBIS

Lutar pelo Amar



Sonhar é preciso, amanhã será em breve hoje,
Hoje o dia passará e o chamaremos de ontem.
O tesouro dos minutos é temporário que foge,
A vida é tão rápida mas basta que a afrontem.


Só há um caminho para a conquista, é o amar,
Ser feliz todos querem, nem todos conseguem,
O ser é livre de buscar a profundeza desse mar,
Sonho dum limiar de cor, que todos perseguem.





Que todos possamos esses tesouros aproveitar,
A eternidade é feita de segundos, alguns de dor,
Alguns de puro prazer, mas temos que ter amor.


Ao julgamento alheio não ligar não é importante,
Quem ama, procure o amor mesmo que distante
E que viva sempre o sonho dum amor constante.


Assin: António Moreno
Fotografia: Nude Lovers Embracing © Douglas Kirkland/CORBIS

terça-feira, janeiro 11, 2005

O sonho fica.

Sonho


Esperança nasce no corpo e no peito,
Inventei andarilhos de sonho, amores,
Pingando no chão sangue tal enfeito
Pinto de vermelho o meu ser em dores,
Capaz de escalar o meu peito desfeito,
Filha duns lábios meus, carne rasgada
Minhas mãos desenham um puro leito
Lapidando os olhos da natureza errada
Simulei o choro, vendi a alma sem jeito,
Mau negócio cósmico, fiquei sem nada,
Hoje amo uma qualquer, mau andarilho,
Na natureza pura tal nua de perfeição,
Restaram cheiros, ficaram como filhos
Meninos de olhos brilhantes de Paixão
Ficaram sonhos dentro de mim então.
Não sairão, ficarão para sempre...
...és o meu coração.
O sonho fica pois a alma não mente.

Assin: Artur Rebelo
Foto retirada no blog: http://floreca.blogs.sapo.pt/

Ganhei um desatino em ti,,,
Construí a tristeza em mim,,,



Amor preso

Tenho um cavado e infausto semblante,
São marcas de lamentos em delírios,
Sem dó esta dor é lamento constante,
Germinaram em mim ácidos martírios.
Sonho em mim que és mulher confusa,
Culpa somente tua, tu com tal negação
Sangue me dás a beber da alma difusa,
Sangue mais ácido que salgado,
Sonho queimado pela brasa do carvão.
Porquê um não? Estou cansado.
Corro numa correria louca sem fim,
Noites vazias de ti, caladas por mim.
Silencio pungente do Novembro,
Sem fleumas de vida, tristeza assim,
Cresceu e tolheu ânimo de Dezembro,
Ganhei um pérfido desatino em ti,
Corro numa correria tão louca,
Pelo menos corro sem alma em mim,
Pelo último beijo teu na minha boca.
Meus lábios desejam apenas um sim...

Assin: Artur Rebelo
(Incluído na colectânea dores)
Fonte: Thom Lang/CORBIS

segunda-feira, janeiro 10, 2005

És plena mulher

Mulher

Chegou o prazer em tons de azul,
Neste dia de olhares e sussurros
Desloquei-me para o perfeito Sul,
Teu Sul, cheiro melado de mucos
Teu Sul é fenda, senda dum amor,
A magia do poço húmido de calor.
Cheiro doce e forte muito ridente,
Cola-se à minha pele feita espuma,
Tua vagina clara e funda incidente,
Húmida a mucosa que me perfuma,
Embrulhada em papel rosado de cor,
Desperta os meus sentidos de sabor.
Despertei os meus olhos perante ti,
Cegaste os meus sentidos de cansaço,
Teu cheiro ficou, relampejei no fim,
Teus seios me perdem e os amasso,
Redondas colinas que aureolam uma flor.
Neste momento ainda és tão minha,
Prazer de escutar teus passos meu amor,
Recostado na cama os teus cabelos admiro,
Fios de cheiro que perfumam a minha alma
Saudei o luar nocturno com um suspiro,
Tu perante mim nua de sentida alva
Meu amor por ti persegue o desatino,
Pois adormeceste por fim na noite calma,
E o meu sorriso meigo é um sorriso de menino.


Assin: Artur Rebelo

Titulo da foto: Woman in bed
Por: David Pollack/CORBIS

domingo, janeiro 09, 2005

Abortei* o esquecimento


pluma


Esqueci a tua essência branda,
Esqueci o cheiro da espuma do mar,
Esqueci o teu aroma de lavanda,
Esqueci tudo até de amar...
Num segundo do momento, fragmento,
Lembrei de ti,
Foi no fundo pouco tempo
Rapidamente te esqueci.
Esqueci este nu sentido,
Retomei um pequeno lamento,
Que saiu de mim como um rio,
Abortei* o esquecimento...
¿E ahora?
Ahora el vientre que sangra é mío.

Assin: Artur Rebelo

*(Nota: Abortei relativo a expulsão )
Foto: Fonte Corbis

sábado, janeiro 08, 2005

PENSAMENTO...



Mãos


Ninguém tem o direito de olhar
de cima para baixo quem está no chão,
A não ser que seja para lhe estender a mão,
o ajudar a levantar e abraçar,
como um irmão...



Assin: Artur Rebelo
Painel é de Todd Davidson

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Bocas ordinárias...



Beijo tal boca que me baba,
Bebo a boca que me bebe,
Beijo a baba nada breve,
Saboreio a saliva adocicada.
Bebida duma boca babada,
Babo a boca que me beija,
Boca essa da minha amada
Coladas bocas de amêijoa...

Assin: Artur Rebelo

Palavras que queimam



A qualquer chama estancada,
Eu estanco mil palavras,
Pois a chama é queimada
Pelas palavras em debandada...

Assin: Artur Rebelo
Fonte da Foto: Google

Estocada




A paixão é a pérfida espada,
Seu fio afiado trás derrames de sal,
Sangue é o amado da espada amada,
Sangue que corre sem licença para tal.


Assin: Artur Rebelo
Autor: Araldo de Luca - Fonte: Corbis

Prisão.

Prisão

Dura pedra-pomes feita de pó
Tal caminho prenho de ervas,
E o meu coração que se sente só
Assombro e vertigem das trevas...
Flor suada em vermelho vivo,
Enganos nos beijos das servas
Cantiga da humidade que eu sigo,
Arranquem esta intensa pústula!
Culpem as Jesebeis e essas Evas...
Lágrimas doces de fel, falsa bula
Culpa da retina presa … Minerva,
Minhas lágrimas são de água nula,
Por ti enleadas num campo minado,
Eu desejo o teu doce mel açucarado...
Preso o mel em mim coalhado.

Assin: Artur Rebelo
(Fotógrafo: Jeff Albertson - Fonte: Corbis)

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Pergunto ao mar...

Pergunta ao mar

Porquê mar?
Porque queimas como a cal?
Porquê este Tsunami a desabar?
Porque queres juntar ao teu sal,
O sal das lágrimas desta gente?
O que esta gente fez de mal?
Porquê mar? Tua alma não sente?
Porque és tão fatal?
Porquê? Choro mar,
Porque às vezes és do mal,
Mas não consigo deixar
De te amar.

Assin: Artur Rebelo
(Dedicado às vitimas de dor do
Tsunami ocorrido em 2004-12-26).


Foto de um pai segurando a mão dum filho chorando,
foto tirada pela NBC News.

Transcendo o meu ser de dor...

Example

Vagamente transcendo o meu ser,
Sempre me disseram que acontecia,
Mas fujo da minha carne pois não caibo,
Vivo estou, mas é um eterno morrer...
Fujo da minha apatia, tropeço e caio,
Sempre naveguei nas noites de letargia,
Engasgado em solidão acidez sentia,
Beijo a minha mão com aberta retina,
Foco na mente o teu corpo de menina,
Saboreio a minha derme salgada de suor,
Mas penso na tua pele tão linda e fina,
Perfidamente transcendo o meu ser de dor...
São sons, mergulhos interiores da mente,
O amor não designa nada deste sentir,
Embriaguei a noite num dormir diferente,
Caí num abismo sem fundo e transcendente,
Não sei nada, mas sei que não minto...
Penso num beija-flor amante da flor,
Penso na abelha amante do pólen,
Penso em tudo e penso em ti meu amor,
Finjo que voltas, mas não há ninguém
Finjo tanto e com cor mas não sou actor
A ausência dos teus lábios é pior que o além,
É abismo, é dor, toda a dor fica aquém...
Vagamente transcendo o meu ser,
Sempre disseram que acontecia
Disseram pois foi, alguém sabia...
E agora? Vivo estou mas a morrer...

Assin: Artur Rebelo

domingo, janeiro 02, 2005

Desespero...

Desespero

Meu amor é triste, não fica
Meu amor é algo que existe,
Amo a ti minha flor branca e rica,
Rica pelo teu regaço que persiste,
Meu amor por ti é assim,
Rastilho de sonho que não desiste,
Verdadeiro em festa, como um jardim,
És tudo o que resta mesmo sem o momento...

Fica aqui, fica por mim,
Dificil de esquecer este sentimento.

Não me queixo que vás,
Não me queixo que me deixaste,
O pior, em mim ainda estás,
O teu perfume doce não levaste,
Ficaste aqui dentro, permaneces cá.
Apaga este fogo cor de carmim,
Apaga-me o fogo que incendiaste.

Fica aqui, fica por mim,
Dificil esquecer o que cá deixaste.

Dificil é assim viver,
Meu amor continua e persiste.
Dificil este amor esquecer,
Meu amor por ti continua triste.


Assin: Artur Rebelo (2005-01-02)
(Incluído na colectânea "Dores")

Foto: Titulo "Female nude" de Rick Gayle retirado do site CORBIS