1 - O beijo...
Tu que procuras os lírios do campo,
Não os encontrarás na cidade.
Buscas algo doce num imenso desencanto,
Buscas algo na insana ansiedade.
Tu que buscas as pedras da calçada,
Não as encontrarás no campo silvestre.
Buscas algo imenso, que agrada,
Algo que não compreendo, algo leve.
Tu que procuras a profundidade,
Seja no intenso campo ou na imensa cidade,
Seja na verdura ou numa rua escura,
Seja na cidade ou no campo da loucura,
Tem sabor de lírios, pedras e de saudade,
Os teus lábios nos meus saboreiam a verdade.
2 - Por quem...
Nasço quando tu me descobres,
Vivo quando me saboreias,
Morro quando me encobres
Vagueio sentindo as tuas veias,
Serenata dum ser, em corpo de prazer,
Corrois a invenção doce numa levada,
Tal clamor de dor sem mesmo o querer,
Perfeita, provada e tão amada.
Por trás duns olhos, vives, és bem feita,
Toque de umas mãos na seda escorreita
Onde a minha fronte nos teus seios se deita
Ó beleza, por quem coro,
Ó princesa, por quem fodo,
Ó mulher por quem morro.
3 - Vida tão...
A minha vida nada tem a temer,
Com sons que clamam por nascer,
Com luzes que tendem a aparecer,
Mas o fôlego tende a morrer.
Vida de êxtase busca sempre mais
Não inteiramente recompensada,
Pretende-se que seja muito amada,
Amada, amada dos amores reais.
Como se de um sonho se tratasse
Dentro de nave as vidas virtuais
Mas a vida dá voltas e renasce.
Para sempre o que interessa é viver,
Viver tão completamente e muito mais,
Mas quanto mais, mais significa sofrer.
4 - Memórias...
Estou surdo, o céu parei para escutar,
Estou cego, a brisa do mar passei a ver,
Perdi os sentidos de ti, sem nada saber,
Perdi o raio de luz que me poderia salvar
Somente as minhas memórias permanecem ficar
Mas nesta escuridão um grito se libertou
Nesta profunda imensidão algo me alimentou
Algo me corrói a alma e a minha visão do mar
Algo tão forte que em lágrimas se solta,
Provocas morte na carne, a luz me apagas,
Algo como a dor que causa estranha revolta.
Na escuridão me encontro, não te desejo,
Só as lembranças que tu dás, tais chagas
Mas ainda assim, és tudo o que tenho.
5 - Deserto de amor
Ao nascimento deixado para trás, amor
Na morte viva e agreste, um perdão
Na vida breve e encontrada, paixão,
És loucura afundada em terror.
Senhora quem és tu branda e pequena
Senhora quem és tu doce e vadia,
Porque é que sigo esta má via?
Senhora, tão linda, tão doce e morena.
Ódio de amor afundado num pavor,
Salpico-me do meu liquido vermelho,
Pela tua busca, salpico-me de dor.
Escolhes o deserto, és deserto sem mim
Tudo perdi, tudo esqueci, estou velho,
Olhos frios os teus, esse é o meu fim.
Apresento-vos o António Moreno...
Uma das poucas fotos do poeta que verão por aqui.
6 - Guerra, Amor e Paz...
De uma maneira natural é-se capaz,
Tudo real levado pelo espírito,
Sem se conceber ao êxtase e martírio,
São três estigmas: Guerra, Amor e Paz.
Estigmas da vida dogmas de dor,
Este é o nascimento do mundo,
Abraçados num marco profundo,
Como o sol que brilha até se pôr.
Três palavras, doces ou de vingança,
São três palavras que chamamos vida,
Três palavras e apenas uma Esperança.
Escrevo na folha branca com carvão,
Esta charada duma vida assumida,
Uma poesia, três palavras de ilusão.
7 - Guerra...
A guerra é sangue e dor,
Tantos ódios a incandescerem
Os perdedores a morrerem,
Chacinados em ódio e horror
Na noite se acalma o medo,
O frio da noite marca o corpo,
Na noite o ódio fica tropo
Mas volta o medo na manhã cedo.
Guerra palavra sem sentido,
Morrer apenas num segundo,
Sem viver, sem ter vivido.
Guerra tal medo de não viver,
O medo de não ver o mundo,
É solicitado o matar e morrer.
8 - Acordar da manhã.
Deitados, sentimentos sombrios,
Levantados, corpos frustrados,
Não inteiramente recompensados,
O porquê de ter sonhos vazios?
Porquê o amor dá sons agitados?
O acordar da manhã é como o amor
Para uns é bom, para outros é dor
Da vida abraçados e da morte amados,
Sombrias manhãs clareadas ao nascer
Deitados juntos, no entanto separados,
Olhos quentes carentes, ficam a morrer
O dia nasceu e falece a alegria vã,
Levantar da alvorada desencontrados,
Vida no romper do dia, assim é a manhã.
9 - Fuga...
Fugindo, correndo da má sorte.
Fugindo, vida batendo em açoite,
Fugindo, por dentro da noite,
Fugindo, com medo da tal morte,
Fugindo, gritos murmurando ajuda,
Fugindo, sem ti sem o teu amar,
Fugindo, do terror de te odiar,
Perder consciência na dor aguda.
Bailando no vazio da imaginação
Nos olhos negros que me refuta
Fujo de tudo e todos sem perdão
Fujo porque não quero odiar,
Fujo do mundo e de ti puta,
Fujo para não ter que matar.
10 - Amor sexual
Originadas por um silêncio mudo
Aliada na folia duma paixão desigual,
Desejo sensual numa armadilha fatal,
Dos corpos abundantes em conteúdo.
Prazer do sexo é alinhamento cruel,
Liberta o espírito e alivia a solidão.
Sacio do corpo é falsa alienação,
Tal como sexo feito em cama de dossel.
Dor física em prazer mental extenso
Começada num movimento do espasmo
Não há amor apenas sexo imenso.
Ambos lascivos mas com movimento,
Apenas interessa o intenso orgasmo,
Mas é amor sem vida nem sentimento.
Assin: António Moreno